06/08/2012 - 01:03 - Depoimento do ministro Celso Amorim - “Eu
me recordo, quando era adolescente, da minha perplexidade em entender aquele
momento da história. Foi uma barbárie e violência que até hoje desafiam a
compreensão humana”.
Texto do prof. Israel Blajberg, diretor de Cidadania da FIERJ -
Domingo, 05 de
agosto de 2012.
A data revestiu-se de relevante significado para a memória da
participação nacional na II Guerra Mundial, como também para a comunidade
judaica brasileira, com a inauguração, pelo ministro da Defesa, embaixador Celso
Amorim, da "Estrela de David" no Monumento aos Pracinhas, trazendo a tocante
mensagem que sensibilizou o grande público presente ao Mausoléu do Monumento
Nacional aos Mortos da II Guerra Mundial, no Parque do Flamengo, no Rio de
Janeiro. Foi um ato breve e singelo, mas altamente significativo, recordando o
ano de 1942, quando navios brasileiros foram torpedeados o que motivou a entrada
do Brasil na guerra.
A Estrela está instalada no Mausoléu do subsolo que
abriga os túmulos de 467 soldados, que tombaram na Itália em 1944/45, e os nomes
gravados no mármore de mais de 1400 civis e militares desaparecidos no mar, em
consequência da blitz submarina que atingiu 33 navios mercantes nacionais.
Apenas em agosto de 1942 seis navios foram torpedeados em quatro dias,
desaparecendo no mar 600 patrícios inocentes, quando, diante do clamor popular,
em 31 de agosto de 1942, o Governo Vargas reconheceu o estado de beligerância
com as Potências do Eixo. O projeto foi uma realização da Diretoria de Cidadania
da FIERJ, comandada por Israel Blajberg, que desenvolveu a ideia em parceria com
o diretor do Monumento, coronel Germano Américo dos Santos, agregando a "Estrela
de David" ao profundo ambiente de religiosidade do Mausoléu. A iniciativa
mereceu o apoio da DPHCEX - Diretoria do Patrimônio Histórico e Cultural do
Exercito, pelo seu titular, general de Divisão Eduardo José Barbosa.
A
comunidade judaica se orgulha de ter vivido esta história ombro a ombro com a
comunidade maior e, neste 05 de agosto, passados 70 anos, reafirmou sua
presença, dedicando ao Monumento no dia do seu 52º aniversário a "Estrela de
David", e palavras de recordação aos heróis que aqui eternamente repousam, e aos
tripulantes e civis cujas vidas preciosas se perderam no mar, nos legando seus
nomes aqui gravados no mármore. A "Estrela de David", hoje inaugurada, é a mesma
que os judeus foram obrigados a usar na roupa, durante o conflito na Europa
ocupada, para diferenciá-los dos demais e promover o cruel episódio que passou a
história com um nome cunhado especialmente para designá-lo: Holocausto, crime
contra a Humanidade, 6 milhões de inocentes sacrificados, uma tragédia sem
paralelo na história universal, um absurdo inominável em que métodos industriais
de assassinato em massa foram utilizados no extermínio de populações inteiras
indefesas. Durante a cerimônia, o Coral Israelita Brasileiro, sob a regência do
maest
ro Abrahão Rumchinsky, interpretou em hebraico e português a canção
pacifista "Al HaDerech" ("No caminho") e a "Canção do Expedicionário". Usaram da
palavra a presidente da FIERJ, Sarita Schafel, e Fernando Lottemberg,
secretário-geral da Confederação Israelita do Brasil. Na placa, a seguinte
mensagem:" 1942 – 2012
Há setenta anos preciosas vidas brasileiras se
perderam no litoral, pela ação perversa de uma ideologia inaceitável para a
Humanidade. O mar as recebeu e conduziu para os braços do Criador, abrindo
caminhos para bravos combatentes, a lutar pela honra da Pátria e na defesa da
dignidade humana"
A Estrela de Davi em metal amarelo foi idealizada pela
artista plástica Ruth Kac, com 72cm, sinal de relevante capital simbólico por
ser múltiplo de 18, cuja representação numérica hebraica forma a palavra "chai"
("vida"). A artista guarda ainda ligação sentimental com a obra, como filha do
tenente R/2 Abrahão David Bregman (CPOR/RJ 1942), do 3º/1º. Regimento de
Artilharia Anti Aérea, integrante da defesa de Natal, o Trampolim da Vitória,
uma das mais importantes bases estratégicas da época. Assim, a partir de agora,
a "Estrela de David" irradiará suas bênçãos aos nossos heróicos combatentes que
repousam no Monumento. Eles fizeram o sacrifício supremo no campo de batalha
para que nunca mais pudesse ressurgir a intolerância, a discriminação. Unido às
demais Nações Aliadas, o Brasil participou da conquista da liberdade e da
democracia.
Cabe aos homens e mulheres de bem jamais olvidar esta
memória de lutas e de sacrifício, em todos os países do mundo, a fim de que
nenhum Holocausto possa jamais se repetir, contra quem quer que seja, em nenhum
continente.
Mensagem de Fernando Lottemberg, secretário-geral da
Confederação Israelita do Brasil - É com muito orgulho e reconhecimento que a
Confederação Israelita do Brasil, representante da comunidade judaica
brasileira, presta esta singela homenagem àqueles que estão, de forma indelével,
registrados na história de nosso país. São vítimas da bestialidade nazifascista.
São heróis da luta pela liberdade e pela democracia. Prestamos este tributo como
cidadãos brasileiros, orgulhosos de nossos irmãos que combateram a barbárie e
contribuíram para o triunfo da paz e dos valores que devem balizar a construção
de nossas sociedades contemporâneas.
Prestamos este tributo também aos
descendentes diretos de vítimas do maior e mais impressionante genocídio jamais
visto na história da humanidade, quando seis milhões de judeus, entre os quais
mais de um milhão de crianças, foram brutamente massacrados por uma verdadeira
indústria da morte, montada pelos nazistas com requintes de crueldade e
vilania.
Temos, portanto, um inquebrantável compromisso com a luta pela
liberdade e pela democracia. Temos, igualmente, um inquebrantável compromisso na
luta contra a discriminação e contra o racismo. Mais recentemente, temos
enfrentado o ressurgimento de um fenômeno que julgávamos já superado por sua
própria natureza abjeta: o negacionismo histórico e o revisionismo. Esta cidade,
o Rio de Janeiro, conhecida por sua tolerância, diversidade e espírito
democrático, registrou a presença indesejada do ditador iraniano Mahmod
Ahmadinejad, símbolo de um regime opressor, que despreza os direitos humanos, a
paz e, em sua ampla lista de atitudes condenáveis, chega a negar a ocorrência do
Holocausto. Negar mais fatos significa não apenas desrespeitar a memória de
nossos antepassados, vítimas da sanha nazista.
Significa também
desrespeitar a memória daqueles milhões de heróis que tombaram na luta contra um
dos episódios mais nefastos da história da humanidade. Negar o Holocausto,
portanto, significa também desrespeitar a memória daqueles aqui tão justamente
homenageados e eternizados em nossas memórias.